quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O post mais difícil de colocar

Comecei a escrever este post em Hong Kong…

Escrevo-te do átrio das partidas internacionais do terminal 1 do aeroporto de Hong Kong. Apregoa-se por aqui que há Free Wi-Fi em todo o lado mas o meu pc parece não concordar com isto…ainda não me consegui ligar e já comi, entretanto, uma pratada de Noodles. Queria ter experimentado mais coisas típicas mas o cheiro de um qualquer tempero que colocam em tudo faz-me ficar nauseada e, portanto, o Mac nunca me soube tão bem! Pelo menos não cheira a nada de especial – só a batata frita.

Só hoje te escrevo, embora provavelmente não to consiga mostrar, porque a Internet em Macau é uma coisa rara, ao que parece. Penso que era suposto haver no hotel em que fiquei, ainda que a pagar, mas…bem, não consegui ligar ontem e na noite anterior estava tão podre de cansaço que nem tentei, confesso.

Deixando agora todas as desculpas e voltando ao que interessa – tudo o que tenho para te contar acerca do meu último dia em Hong Kong e dos dias em Macau - cá vai disto.

O último dia em Hong Kong poderia ter o título de “macacos à solta” ou “enganos” mas talvez o mais correcto fosse “dia de loucos”. Começou pelo meu desejo de comer uma torradinha com manteiga e beber um cafezinho com leite, o que só era possível no hotel e pela elevada quantia de 46HKD mais 10% de taxas. Não te assustes com estas quantias, isto dava pouco mais de 5 EUR mas, ainda assim, era um abuso. Como o estômago gritava pela torradinha, eu cedi e, quem acha que as tentações são sempre coisa do diabo, desengane-se! Fui, comi 3 torradinhas com manteiguinha da Nova Zelândia! E, o melhor de tudo, ninguém sequer me perguntou o número do quarto; resultado, foi grátis!

Com o primeiro desejo do dia satisfeito, lá fui eu a caminhar até à estação do KCR (igual ao nosso comboio suburbano), por mais de meia hora, para não perder a oportunidade de ver o Hong Kong Wetlands park. Para parque dentro de uma cidade, embora já na periferia, não está nada mal. Aliás, quem dera o nosso Tejo ou Sado terem, no seu sapal, uma área tão bem pensada, com passadiços e informação sobre todas as plantas e bichos. Gostei tanto que até me apetecia observar pássaros! Ou seria do extremo calor e do facto de os abrigos para observação serem fresquinhos?!


Isto tem, claro está, uma parte negativa – há sempre gente aos magotes e a falar alto por todo o lado pelo que deve ser duro ser Bicho por aqui. Ora vê só quantos iam à minha frente! Fartinha do calor húmido e com a roupa coladinha ao corpo (não é uma imagem sexy, é mesmo um calor que não se aguenta!) mas com vontade de ver o maior mosteiro de Hong Kong, comecei a viagem até ao famoso 10 000 Buddhas Monastery, utilizando todos os tipos de comboio – Light Rail (igual ao metro do Porto), KCR e MTR (o verdadeiro metro!). E aqui começou também o disparate…Eu, que sou sempre (ou quase sempre) tão orientada apanhei o Light Rail errado (parou umas quantas estações antes e, se não fosse o condutor teria apanhado ainda outro errado!), saí para o lado errado na estação do KCR (mas, felizmente deu para almoçar no Mac porque saí dentro de um GIGANTESCO centro comercial!) e, não contente com isto, subi a colina errada para chegar ao dito mosteiro, participando, sem querer, numa qualquer cerimónia de veneração dos familiares já desaparecidos das dezenas de Chineses que por ali andavam! Por isso todos olhavam para mim com cara de caso...até duas estudantes decidiram entrevistar-me com direito a foto e tudo! Perguntaram “why does this place interests turists?” e eu, que nunca me desmanchei respondi “porque é a vossa cultura!” - Há males que vêm por bem, é o que te digo!

Por acaso foi mesmo muito interessante porque eles levam frutas frescas e presentes (como se fosse Natal!) aos seus familiares já desaparecidos. Não choram nem gritam nem cantam – falam com eles (talvez rezem?!) e queimam (muito!) incenso. Claro que não tirei nenhuma foto mas levo na memória as imagens difíceis de esquecer.

Voltei a descer esta colina e a subir a do lado, a certa para os 10 000 Buddhas.











Eu não os contei mas, de facto, parecem mesmo muitos mil – alguns todos diferentes, outros todos iguais.


















Uns em templos bem estimados, outros em casas decrépitas. Mas este é um dos encantos desta cultura; os deuses podem ser, e são, adorados em qualquer sítio...
Despedi-me de Hong Kong, voltei ao hotel e preparei-me para rumar a Macau no dia seguinte.
Esta nossa ex-colónia sempre me intrigou…Mais uma vez tomei o pequeno-almoço de graça (esqueceram-se de o pôr na conta!), apanhei um red cab e segui para o terminal de ferry Hong Kong - Macau. Não sei exactamente por que razão, mas suponho que tenha sido obra do meu anjinho da guarda, comprei um bilhete superclass e despachei a bagagem e…foi o melhor que fiz. A viagem ainda demora cerca de uma hora mas é tal e qual como no avião – aperta-se o cinto, há um folheto de saídas de emergência para ler, vêm as “ferrymoças” distribuir a refeição e oferecer o duty free!

Coloquei os meus pés em Macau, e nem uma palavrinha em Português ouvi. Devo aliás dizer-te que só o ouvi bem falado no ferry (pela gravação que, provavelmente, é do “nosso tempo”), em duas miúdas numa esplanada no centro e por três senhoras que seguiam pela rua! Todas as ruas, nomes de institutos oficiais, bancos e outros serviços, têm nome em Português e Chinês mas, as lojas, hotéis e pessoas já nem a pronúncia entendem…experimentei dizer “hotel metrópole” em bom Português de Lisboa e deram-me um cartaz bilingue para eu apontar!

Se tivesse que descrever Macau brevemente dir-te-ía apenas “Chinatown com calçada Portuguesa” – no fundo é isto. É feia, exceptuando meia dúzia de edifícios de arquitectura colonial, as igrejas, a avenida à beira-mar e, claro está, a zona dos casinos, principalmente de noite, em que o brilho das luzes ofusca as misérias…mas vou deixar-te fazer o teu próprio juízo com as minhas fotos do primeiro dia.
É que aqui nem há uma “boa pastelaria”! Foi aliás esta a única palavra que aprendi em Macaense – “pastelaria” é uma loja em que se vende bolos secos com travo a frutos secos, típicos recuerdos das ruínas de S. Paulo, e umas febras de porco fumadas e temperadas de várias formas (picante ou adocicado, por exemplo). Como se não bastasse isto, gabam-se de vender os “famosos” Portuguese crusty tart mas o que lá têm é uma espécie de leite creme de muito má qualidade numa tacinha de massa folhada… como é óbvio, dei uma gargalhada logo a seguir à primeira dentada!
No dia seguinte, e depois de um passeio muito agradável pela avenida à beira-mar, visitei o museu marítimo e, este sim, é um verdadeiro tributo à obra dos Descobrimentos e à importância dos Portugueses em Macau e na Ásia – no primeiro andar, claro! Porque o piso térreo é dedicado às técnicas, artes e trajes de pesca de Macau ou da China. Claro está que, dentro do museu, não andava ninguém…Já no templo de A-Ma, ao qual se parece dever a denominação de Macau, não “se rompia com povo”, como diz a minha avó! E aquilo é que foi tirar fotografias! Eu, que até aqui, me estava a conter de tirar fotos ao interior dos templos por uma questão de respeito pelas cerimónias que não entendo e por não saber se as fotos ofenderiam, ou não, interpretei isto como “claro que se pode” e fiz o mesmo! Finalmente umas fotos dos incensos em espiral! Foi também neste dia que fiquei a saber o que é um “ponto de vista”…

Mas neste dia, o que mais me encantou foi Veneza! Não, não estou a baralhar os meus ficheiros de viagens; estou a falar do “tal maior casino do mundo” – the Venetian. Este é apenas o primeiro daquela que será a Las Vegas da Ásia, na ilha de Taipa – Cotai StripTM (sim, é trade mark!). O Venetian é uma réplica em tamanho natural da cidade de Veneza de tal forma perfeita que não lhe faltam os gondoleiros, a ponte dos suspiros nem a torre de São Marcos, EM TAMANHO REAL. Quem já visitou esta cidade de amor, deleite-se agora com o que o amor ao dinheiro pode mandar fazer…

Então, e perguntas tu, “Taipa só tem o casino?” Não.
















Tem a famosa “Rua do Cunha”, a das pastelarias, a igreja de Nossa Sra. do Carmo, as Casas das Regiões de Portugal (uma delas particularmente enigmática…), junto a um lindo parque...















Tem também a vila de Coloane, com os seus templos e a famosa pastelaria de Lord Stowe – o inventor dos pastéis de nata asiáticos! Foi ele que disse…

Regressei a Macau ao final do dia mas só depois de espreitar a praia de Hac Sa – não só a areia é negra como o devem ser os dias aqui passados já que não se pode tomar banho, andar na água, nadar, mergulhar, e outras coisas que te passem pela cabeça fazer na praia…











Ficou para último dia o jardim de Lim Leoc e, valeu a pena. O caminho até lá, pelas ruas calcetadas de Macau, com o sol da manhã e uma brisa fresca, a paz do jardim cheio de velhotes a ginasticar (Tai Chi, Yoga, alongamentos) e músicos a ensaiar foi o remate perfeito da Ásia e talvez me tenha servido de “amortecedor” para os contratempos que estavam para vir…Deixei o hotel e, no terminal de Macau, julguei ser possível apanhar um ferry directamente para o aeroporto de Hong Kong e dirigi-me ao balcão de check-in da Cathay Pacific. Depois de tentar perguntar se, apesar de ainda faltarem seis horas, já poderia fazer check-in e não obter nenhuma resposta perceptível, tentei, para ver no que dava…E não deu e ela disse-me que era porque eu não tinha VISA. Tentei, agora no meu melhor anglo-cantão explicar que como cidadã Portuguesa não precisava de VISA, ela encolheu os ombros, perguntou a mais 3 colegas em chinês e lá veio uma, com um inglês arrevesado, dizer-me que eu devia ir à agência de viagens ali do canto porque o meu bilhete era electrónico (ou pelo menos isto foi o que eu percebi…).
Fui à agência, expliquei o caso e a miúda passou-me à do lado porque não percebia inglês. A do lado interrompeu um telefonema e talvez até falasse inglês mas, como o sotaque é chinês, só consegui perceber charge you 50 dollars for the ticket, e não eram dólares de Hong Kong! Ela voltou ao telefonema que estava a fazer, eu levantei-me saí da agência e apanhei o primeiro ferry para Hong Kong – essa ilha em que me percebiam! Havia um ferry directo para o aeroporto mas só dali a 2 horas e NEM MAIS UM MINUTO EM MACAU!, pensei eu.

No aeroporto de Hong Kong lá me explicaram que apenas os Autralianos e Neozelandeses não precisam de visto para entrar na Austrália; todo o resto do mundo sim mas tudo o que tem que se fazer é apply for an electronic Visa on the web e as Sras. da Cathay Pacific fizeram-me isso, pela módica quantia de 400HKD (dez USD mais baratos que as mal-formadas de Macau!). Aqui, confesso, enervei-me um bocadinho porque se a resposta ao pedido de Visto não fosse imediata, lá se ía parte da viagem.

Mas correu e isso é que interessa! E correu bem mesmo – gostei deste pedaço de Ásia, fica “o bichinho” de conhecer mais sobre esta cultura. Ficam algumas impressões neste blog:

O tempo é estranho, está sempre nublado da humidade. Talvez por isso ninguém tenha muita vontade de sorrir…As palhinhas não vêm em embalagens individuais, nem mesmo nas cadeias internacionais, mas as pessoas constipadas andam de máscara cirúrgica, as casas de banho públicas têm quase sempre o papel para o assento da sanita, papel higiénico e sabonete…As grávidas comem saladas, mariscos mal cozinhados como entrada e prato principal…não se pode secar roupa nos jardins nem deitar nos bancos das pracetas e não se pode nadar nas praias…Macau preferiu ser chinês mas aqui cospe-se no chão, as ruas estão sujas e não se pode falar com o condutor do autocarro mas ele pára fora dos sítios devidos para que ninguém chegue atrasado a casa ou ao emprego…contrastes!
Outras levo comigo, na tal caixinha e partilho contigo ao vivo sempre que me perguntares o que achei.



... continuei já em Sidney, num dia em que a net ía abaixo constantemente e o blog tinha um bug que não deixava colocar fotos...

Mudando de continente, e depois de 9h de uma viagem agradável e do preenchimento de um longo questionário para a imigração da Austrália, eis que surge um novo contratempo – o passaporte Português não passa no leitor electrónico!
Lá fui, junto com um Francês bem apessoado e um “Musselino” para um outro balcão para que o meu passaporte fosse inspeccionado página a página para revelar a sua autenticidade – até lhe arrancaram um agrafo japonês colocado em Tóquio por gente de funções semelhantes! para verem melhor. Vá lá, não era falso. Eu sou Portuguesa de Lisboa (parece ser boa coisa) e tinha um bilhete electrónico de uma agência britânica! O Francês também se safou; o “Musselino” talvez não…Depois de tanto tempo fui compensada; já de mala aviada só me perguntaram se trazia comida e como a resposta foi negativa, deixaram-me passar sem ir ao RX da mala, confiando na minha honestidade.

Depois de uma hora de autocarro, lá cheguei ao meu hotel em Sidney. Esta viagem foi um excelente seightseeing da cidade que me apaixonou no primeiro instante! Lembra-me Londres mas com sol! Como sabes tenho uma paixão invulgar por Londres – acho linda em tudo...menos no weather e no facto de não se ver o mar. Aqui, felizmente, e mesmo com a brisa geladinha de hoje, o Sol brilhou sempre, ainda que tímido, e o mar está a poucos minutos. Sim, está “fresco” aqui. Começou a Primavera e a temperatura não é má, entre 16 e 21ºC mas a brisa do mar…

O meu passeio começou pelos Royal Botanic Gardens, que além de serem bonitos per se estão localizados à beira do rio permitindo umas fotos espectaculares do porto, da ponte e da Ópera, mas também destes animais que vivem pendurados em árvores, de cabeça para baixo, como se fossem morcegos e imitassem frutos, - a Raposa voadora!










A Ópera é, de facto, uma obra-prima, uma maravilha do mundo! Sabias que começou a ser construída por um arquitecto e terminada por outro 14 anos depois? Que a forma actual nasceu da visão de uma laranja cortada depois de almoço? Que está revestida com azulejos brancos e beige para que tenha diferentes tonalidades consoante o dia esteja descoberto, encoberto ou chuvoso? Quem tem uma sala para ópera e teatro e outra para orquestras e corais e que nesta última cada cadeira custou mais de 1000AUD para que o som seja sempre o mesmo, quer esteja cheia ou vazia? E que as argolas transparentes que estão no tecto desta sala descem durante o concerto para reflectirem o som mais rapidamente e os músicos se ouvirem? Eu agora sei porque o Frodo, o do Sr. dos Anéis, me explicou tudo! É verdade, o guia era tal e qual! Mais um sinal que estou a caminho da NZ.

Apesar do dia não estar convidativo, apanhei o ferry e fui a uma das melhores praias de surf nos arredores de Sidney – Mainly Beach. Mainly é uma cidade pequena mas com um enorme calçadão junto ao mar onde todas as pessoas correm, andam ou passeiam, e uma rua de lojas e cafés – talvez a que tem maior concentração de lojas de roupa de surf e roupa ecológica em todo o mundo!

A viagem de regresso permitiu algumas fotos magníficas de Sidney, não achas? Verdadeiros postais…

Ao cair da noite não pude deixar de subir à Torre de Sidney e fotografar a cidade e o porto à Noite mas aqui Hong Kong ganha! Sidney é igual de dia e de noite – linda a qualquer hora.

Amanhã é a vez de fazer ver tudo ali de cima, i.e., escalar a ponte de Sidney como estes "maluquinhos"!




Beijinhos,

PS – continua a comentar!
...e acabei finalmente hoje de colocar as fotos! Mesmo antes de te contar o que fiz hoje, dia 18 de Outubro de 2007...

3 comentários:

I disse...

Quantas horas têm os teus dias??? estás a fazer render os fusos horários??? :) Que aventuras Bicho!!! Ler os teus relatos é Massssa!!!! Tertúlia amanhã!!!! :) Muitos beijinhos!!

Unknown disse...

Caramba tava a ver q ainda nao era hj q continuava a minha viagem... Tb concordo os teus dias devem ter mais horas q os meus!!
Continuo a adorar a nossa viagem, quero mais!
Mtos beijinhos!...

joao n disse...

A nossa viagem está mesmo a ser o máximo!...todos os dias roubo um pouco ao trabalho para te acompanhar nas ultimas aventuras.
Continua a escrever!
Beijinhos