terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um fim de semana qualquer

Olá,

Ao contrário do que eu havia planeado, ainda que não tenha tido qualquer importância, não fui passear, para longe, no fim de semana; fiquei "por cá", como se costuma dizer "por aí". Mas isto não significa que não tenha tido um Bom fim de semana ou que não tenha sido mais do que um fim de semana qualquer...

Como qualquer fim de semana, este meu começou na sexta, ao final da tarde (night de acordo com os padrões horários da NZ) com uma boa sessão de cinema com uma amiga. Antes de entrarmos no sala, e enquanto esperávamos pelo chocolate quente que a empregada do bar fazia, assistimos a uma cena algo hilariante: um teenager queria que lhe fosse devolvido o dinheiro dos bilhetes de cinema de uma sessão anterior, mas, quando lhe perguntaram porque só agora estava a pedir o reembolso se a sessão tinha sido às 18h e o que tinha andado a fazer nas últimas duas horas (também não percebi o porquê desta pergunta!) ele disse simplesmente "no no, I saw the film!" - estava quase na hora da sessão e por isso não pudemos ficar para ver o desfecho desta estória...será que ele não gostou do filme e queria o dinheiro de volta ou o que se passava é que tinha dois bilhetes extra?! De qualquer forma, já tinha valido uma bela gargalhada!
Fomos ver uma comédia romântica - 27 Dresses - , esse estilo cinematográfico que não requer extrema concentração para se perceber a estória e que nos deixa com a alma mais leve ao fim de duas horas, e...bem, deixou-nos tão leves que tivemos a mesma ideia: e se víssemos outro?! Foi uma "boa ideia" mas, infelizmente, os horários cinematográficos neste país não permitem este tipo de "vontade" depois das 22h30 - como muitas outras coisas, as sessões da meia-noite ainda não chegaram cá.

No sábado fez um tremendo calor mas, ao contrário do que me acontece em Portugal, os 30ºC de Christchurch dão-me vontade de ficar longe do Sol e da praia. Tinha uma sessão de cinema seguida de um jantar Tailandês combinada para as 18h30 mas a tarde estava por preencher...foi então que a Amy se lembrou que precisava comprar umas sementes e umas plantas para preencher o nosso quintal; visto que o meu outro projecto era ler um livro mas tinha que o ir comprar primeiro (sim, tenho lido 1 livro por semana aqui nesta terra!), resolvi acompanhá-la na busca das melhores couves, bróculos e cebolinho para as próximas saladas cá em casa.
Durante um café gelado (Iced expresso) no "Jardim Encantado" do Café do viveiro (uma espécie de estufa com um lago e trepadeiras por todo o lado e um ou outro elfo ou fada, em pedra), e porque as conversas são como as cerejas, resolvemos qual seria o nosso próximo destino nessa tarde - uma retrosaria gigante perto do centro da cidade para comprarmos materiais necessários a uns projectos de design que temos em mente! Nunca tinha entrado numa loja desta especialidade num outro país e há muito que não o faço em portugal mas, mais uma vez, acho que, provavelmente, já não temos tanta variedade de linhas, lãs e tecidos fluorescentes...
O filme desta noite foi igualmente bom mas bastante triste também - PS: I Love You - mas o jantar Tailandês foi bastante reconfortante, embora bem diferente dos outros Tailandeses que já experimentei...acho que vou ter que ir à Tailândia para saber o que é, de facto, comida Tailandesa.

No Domingo andei, literalmente, a plantar couves! Não é algo que me dê uma particular satisfação - aliás, só achei graça porque era novidade - mas, numa manhã quente de Domingo e ainda sem livro para ler e sem uma peça crucial para começar o meu projecto de design...enfim, foi uma manhã diferente. A tarde não foi menos "diferente" - fui a um Summer Festival em Lyttelton. A ideia original era ir a pé, subindo e descendo a colina que separa CHC de Lyttelton mas estavam mais de 30ºC! Fomos de autocarro, o número 28, na esperança de poder voltar a pé, caso refrescasse. Ora bem, o Summer Festival não era mais do que a rua principal de Lyttelton ladeada de quiosques de venda de comida, bebida ou roupa e um palco em cada extremo - um para música, outro para artes mais ousadas como, por exemplo, ficar deitado de costas sobre estilhaços de vidro com uma rapariga sobre o peito! Foi mais uma experiência...e como o calor não diminuiu o número 28 trouxe-nos de volta a casa.

Beijinhos,
J

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O que nunca vem nos guias de viagem da NZ

Olá,

hoje não venho relatar-te uma viagem, um eclipse ou uma festa; venho apenas partilhar a minha...julgo que não é bem "desilusão" o que sinto mas, curiosamente, não me ocorre outra palavra...

Cada dia que passa, os "pontos" ganhos pela beleza fotográfica deste país na semana da viagem ao Sul diluem-se, quase que por completo, na negatividade da cultura que contrapõe o avanço de 13h no relógio com muitos mais anos de atraso em tantas outras coisas.

Acho que já te falei do problema da violência familiar e do facto de possuírem a 4ª taxa mundial mais elevada de mortalidade infantil, devida a violência; o que acho que ainda não te contei é como o Governo acha que se resolve - proibiu que se dê uma palmada numa criança! Talvez por isso no outro dia eu tenha assistido a uma mãe dar um pontapé num filho num supermercado só porque o miúdo teimava em não caminhar à frente dela...

Também acho que já te falei do homem que alvejou um miúdo que fez uns graffitis...não?! Pois é, apanhou um miúdo a "pintar-lhe a cerca" com umas palavras, pegou na espingarda e matou-o! O Governo reuniu a semana passada e deliberou sobre a aplicação de penas severas a quem graffitar; do homem que disparou nunca mais ouvi falar...e os governantes, já terão ouvido falar de o graffiti enquanto forma de arte e de expressão?! E de cidades em que se criam murais para a expressão desta arte, já terão ouvido falar?! E de como é perigoso ter uma arma em casa carregada e pronta a usar para que esse seja o primeiro recurso, será que pensarão discutir isso um destes dias?!

Provavelmente também já te falei de como o país está repleto de explorações de gado, especialmente ovelhas e vacas, e de como a carne é saborosa porque estes animais só comem pasto. Também já te devo ter falado de como a agricultura é importante e de como se faz tudo para eliminar qualquer peste que a possa danificar. Pois é...isso incluí matar qualquer mamífero, à excepção do Homem, vaca e ovelha, que coma qualquer tipo de vegetal e que, portanto, a caça é uma actividade livre. Qualquer um que tenha uma espingarda de caça pode sair por aí a matar veados, javalis, lebres, coelhos e até Wallabies (lembras-te deles de Sidney?), na quantidade que quiser só porque isso diminui o número de predadores das culturas; e o pior de tudo, é que nem os comem, é mesmo matar só para eliminar! E enquanto uns se divertem a caçar num alto de uma qualquer montanha, outros deixam de poder pescar nos rios, lagos e estuários porque a quantidade de fertilizantes utilizados nos campos e levados para os cursos de água pelas chuvas já não é compatível com a vida de muitos peixes...

Lembro-me de algumas destas coisas serem problemas num país muito pequenino, num cantinho junto ao mar, há muitos anos...De outras coisas lembro-me dos livros de História que já não leio há muitos anos, mas que, até nessa época, eram coisas Pré-Históricas.

Portanto, quando os apresentadores de um programa de tv matutino dizem "Have a good day in Paradise" muitas vezes não sei bem de quê, exactamente, estarão a falar...

Beijinhos,
J

PS: É por isso que preciso ir passear - para o "Paraíso" voltar a ganhar pontos.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

15 dias depois...

Olá!
Bem...só agora percebi que saudades tinha de te escrever e contar tudo e que bem que isto me faz; prometo não voltar a deixar-te sem notícias tantos dias! A questão é que, de facto, voltei mesmo à vida real o que significa que não tenho feito muito mais além de trabalhar...aqui não há muito mais para fazer a não ser...
Dia 7 de Fevereiro, logo a seguir a um feriado Nacional de comemoração do tratado de Waitangui, houve um eclipse solar; foi parcial (cerca de 50%) e aconteceu perto das 17h30 mas não foi nada de espectacular...ficou só mais fresco e levantou-se uma ventania quase medonha! Fotografei o momento para te mostrar mas, como não disponho do equipamento fotográfico necessário, é apenas uma foto do sol. no outro lado do mundo.
Na maior parte dos outros dias estive em casa, a trabalhar, trabalhar, trabalhar para compensar as minhas "várias férias" mas na sexta-feira, e apesar da intensa chuvada, fui a um jogo de Rugby! O primeiro da Rebel Super 14 Cup para a equipa "da terra", os Crusaders! Adorei! Tive que pesquisar e ler as regras básicas desta modalidade antes de ir para o estádio, caso contrário não ía perceber nada, mas valeu a pena - já sabia gritar "Try" e saber quando era penalty.
E depois há, claro!, a parte sexy do jogo: meninas de sainha curta a dançar...
...cavaleiros andantes aa bradar a sua espada e a galope à volta do campo...
e duas vezes duas mãos cheias de homens de calções curtinhos a emitir gritos másculos e a rebolar na relva...bem, não digo mais; deixo-te ver uns filmes!

No próximo fim-de-semana vamos passear! Ainda não sei onde nem como, mas vamos! Preciso de mudar de ares!

Beijinhos,

J

domingo, 3 de fevereiro de 2008

De volta...

Olá,

pois é, já estou de volta a Christchurch e à "vida real"...ou quase real visto que aqui é tudo "meio-sonho" por ser tão diferente. Mas neste "meio-sonho" também há lugar para trabalhar e descansar do "completo sonho" da passada semana. Mas, antes de "acordarmos" completamente, ainda há tempo para mais uma conversa...

No sábado deixei Invercargill, depois de um energético pequeno-almoço no Starbucks mais a Sul, em todo o mundo!, preparada para 8h de viagem pela longa e curvilínea SH1...é, de facto mesmo muuuuuuito longa: saí de Invercargill às 10h e entrei em casa às 20h. Sim, são mais que as 8h de que todos falam mas teve uma razão - uma longa paragem em Dunedin para ver as Borboletas na Floresta Tropical do Museu de Otago!

Provavelmente por estar cansada de 3h ao volante, enganei-me no museu e, em vez de entrar no Otago Museum entrei no Otago Settlers Museum...mas como na vida tudo tem uma razão de ser, visitei este também e, numa das salas, descobri porque me tinha enganado: Um dos primeiros navios que trouxe emigrantes Escoceses para Dunedin, o Otago, foi, anos mais tarde, vendido a uma companhia Portuguesa! Ora aí está a razão do engano - verificar que até no outro lado do mundo, está escrito o nome de Portugal na história!
E, ao que parece, estas "manias" que eles têm na política de emigração não são uma coisa recente...
...pelo menos agora não exigem números de pares de meias específicos, ficam-se pelos centímetros de cintura - estará a melhorar?!

Numa outra sala descobri uns livros de culinária, entre vários electrodomésticos, revistas femininas e vestidos dos dourados anos 50 e, mais uma vez, conseguiram surpreender-me! Então não é que os paraplégicos tinham receitas especiais nos anos 50?! É verdade, está na ca
pa do Truth Cookery Book, no rectângulo cinzento! E não, a foto que se segue não é de um objecto de tortura - é uma máquina de tosquiar inventada aqui na NZ...
...e poupou ao Sr. e respectivos familiares a aprticipação no contingente da II Guerra Mundial! Alguém tinha que ficar a fazer os cobertores e casacos...
Apesar de muito interessante, não era bem isto que eu queria mesmo ver em Dunedin no meu descanso e portanto, à segunda, lá entrei no museu certo. E...bem, acho que as fotos falam por elas...dezenas, centenas de borboletas de todas as cores!
E, enquanto umas comiam, outras voavam e outras descansavam...acontecia um milagre da Natureza numa flor perto dali...
E, será que consegues contar quantas borboletas estão na foto seguinte? É fácil e não são tantas como as focas do outro dia...
Depois deste "passeio pela floresta" foram mais 5h de estrada, com umas paragens para comprar cerejas (são gigantes e óptimas por aqui!) e os mantimentos para os próximos 15 dias.

Mas, no dia seguinte, estava já pronta para um novo passeio! Akaroa, a 86km de Christchurch...
E, não sei se já te fartaste de vida marinha, mas eu não! Não me canso disto nunca! De ver golfinhos...
...sim, está um golfinho a saltar na foto acima! Mas é um Hector Dolphin, os mais pequeninos do mundo e, por isso, é a coisinha cinzenta mais ou menos a meio da foto...pois, talvez na próxima se veja melhor...
...é que são mesmo muito pequeninos - nem um metro tinham estes pequenitos! Mas são tão giros!
A próxima foto é um "bocadinho nojenta" mas...entre todo o guano da rocha talvez consigas ver os Shags (sim, o nome também deixa muito a desejar mas estou a falar das aves e não de outras práticas...)...
E, será que consegues identificar o que está errado na próxima foto?!
Deixámos as calmas águas do porto de Akaroa e entrámos no agitado Pacífico (ou saímos,depende da perspectiva)...
...procurámos os "pequenos pinguim-azul" nas grutas vulcânicas mas não estavam lá...
...e na água, azul e pequeno, apenas medusas!
Mas, nas rochas, estavam as "últimas palmeiras do mundo" - mais a Sul já não existem!
E, a Sul das palmeiras, o mais alto penhasco de Canterbury que, dizem, tem a altura da Torre Eiffel - não me pareceu mas...que era alto, era!
E depois da curva, lá estavam elas! As focas! com bebés e tudo! (estão no lado esquerdo deitadinhos na rocha!)
Que bela forma de terminar uma semana de viagem, não achas?! Eu adorei - a paisagem, o caminho, a brisa, o calor...mas agora vamos "descansar" e preparar a próxima. Sobre isso mesmo, tenho aliás uma pergunta para te colocar - Skydive ou BungeeJump? Tens tempo, pensa bem...
Beijinhos,
J

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sob um céu bioluminescente!

Uma enorme tempestade abateu-se sobre o Sul desta ilha hoje de manhã. Vento forte, chuva torrencial, temperatura mais baixinha...um dia de Inverno. Ainda assim, e embora debaixo de chuva intensa por mais de 150km decidi ir até Te Anau (lê-se tiana), no território designado Fiordland e classificado pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. Percebe-se porquê...


O chefe Maori Te Horo descobriu uma nascente secreta, levou a sua mulher até lá mas pediu-lhe que guardasse segredo...bem se vê que não percebia muito de mulheres - assim que ele partiu em viagem, ela levou o seu amante até á nascente mas, assim que ele se mirou na água, houve uma enchente que inundou a vila e assim se formou o Lago Te Anau... Embora menos poética, a história geológica deste lago, o segundo maior da NZ e o maior dos lagos glaciares, não é menos impressionante. Quando, há muitos milhões de anos, houve um arrefecimento do planeta e a neve se transformou em sólido gelo, os glaciares escavaram os vales que agora se vêem e, quando anos mais tarde, o planeta aqueceu e o mar regrediu, o gelo foi derretendo e enchendo os vales com água criando as paisagens estonteantes dos vários sounds (braços de água) da Fiordland.

Mas o nome Te Anau vem de uma adaptação da desiganção Maori para "remoinho de água" (Te Ana-au) e, até meados dos século XX, a existência de tais remoinhos e de grutas com água por estes lados não passavam de lendas para a maioria dos habitantes. Mas este mistério intrigava o Sr. Lawson Burrows, um operador turístico da zona, que, em 1945, decidiu procurar a nascente da lenda Maori...e encontrou: 3 anos depois, encontrou uma nascente nas montanhas ao longo das margens do lago, mergulhou nela e através de uma passagem rochosa emergiu numa gruta escura...quando olhou para cima viu milhares de glowworms - Assim nasceram as Glowworm Caves, um verdadeiro espectáculo da Natureza!
Como reparaste nesta última foto, as glowworms não são "minhocas" nem "vermes" como o nome sugere e, como também reparaste, as duas últimas fotos não são "fotos verdadeiras", são fotos de panfletos. Infelizmente não se pode fotografar dentro da gruta mas, mesmo que fosse permitido, não resultaria - está demasiado escuro para fotos sem flash enquanto a barca desliza pelo lago subterrâneo e, se o flash disparar elas "apagam a luz". Assim sendo tudo o que te posso dizer é que é como olhar um céu estrelado de azul num lugar em que não há mais nehuma luz além da emitida pelas estrelas...e quando os olhos se habituam à "pouca" luz vês que a gruta é muito mais alta do que poderias imaginar e que a luz que estes organismos emitem não é tão pouca assim pois já consegues distinguir os contornos das caras das outras 11 pessoas que estão na barca...e não te cansas de olhar para cima, para o lado, para cima, para os milhares de pequenos pontos azuis que enchem o "céu" da gruta...mas a viagem termina ao fim de...nem sabes quanto tempo, talvez tenha sido muito mas estarias ali muito mais, a olhar o céu bioluminescente!

As glowworms são, na realidade, as larvas de um insecto (Arachocampa luminosa, pois claro!) que produzem luz para atraír as presas (outros insectos) - quanto mais esfomeadas mais brilhante a sua luz. Mas não se ficam por aqui: produzem também longos "colares" de baba (semelhante aos utilizados pelas aranhas para construír as teias mas "com contas") que ficam suspensos, como "linhas-de-pesca" - uma pequena larva pode ter até 70 "colares" destes suspensos e, quando detecta movimento na extremidade de um deles, "enrola a linha no carreto" e zás - está o almoço pronto! Esta "fase luminosa" dura 9 meses e, depois de uns dias na fase pupa, o adulto está prontinho mas dura pouco; apenas o suficiente para se reproduzir e garantir "que a luz não se apaga" na gruta com toda uma nova geração de larvas.

A chuva e as nuvens cinzentas dissiparam-se completamente e a viagem de 2h de regresso foi bem mais agradável, com um ou outro sobressalto devido aos animais que atravessam a estrada (ouricinhos, ovelhinhas, passarinhos), mas com o sol a fazer-me companhia enquanto descia, calmamente, no horizonte. E cheguei à praia de Oreti, aqui em Invercargill, mesmo a tempo de um outro espectáculo da Natureza...
Assim termina outro dia, no outro lado do mundo...
Beijinho,
J