sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sob um céu bioluminescente!

Uma enorme tempestade abateu-se sobre o Sul desta ilha hoje de manhã. Vento forte, chuva torrencial, temperatura mais baixinha...um dia de Inverno. Ainda assim, e embora debaixo de chuva intensa por mais de 150km decidi ir até Te Anau (lê-se tiana), no território designado Fiordland e classificado pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. Percebe-se porquê...


O chefe Maori Te Horo descobriu uma nascente secreta, levou a sua mulher até lá mas pediu-lhe que guardasse segredo...bem se vê que não percebia muito de mulheres - assim que ele partiu em viagem, ela levou o seu amante até á nascente mas, assim que ele se mirou na água, houve uma enchente que inundou a vila e assim se formou o Lago Te Anau... Embora menos poética, a história geológica deste lago, o segundo maior da NZ e o maior dos lagos glaciares, não é menos impressionante. Quando, há muitos milhões de anos, houve um arrefecimento do planeta e a neve se transformou em sólido gelo, os glaciares escavaram os vales que agora se vêem e, quando anos mais tarde, o planeta aqueceu e o mar regrediu, o gelo foi derretendo e enchendo os vales com água criando as paisagens estonteantes dos vários sounds (braços de água) da Fiordland.

Mas o nome Te Anau vem de uma adaptação da desiganção Maori para "remoinho de água" (Te Ana-au) e, até meados dos século XX, a existência de tais remoinhos e de grutas com água por estes lados não passavam de lendas para a maioria dos habitantes. Mas este mistério intrigava o Sr. Lawson Burrows, um operador turístico da zona, que, em 1945, decidiu procurar a nascente da lenda Maori...e encontrou: 3 anos depois, encontrou uma nascente nas montanhas ao longo das margens do lago, mergulhou nela e através de uma passagem rochosa emergiu numa gruta escura...quando olhou para cima viu milhares de glowworms - Assim nasceram as Glowworm Caves, um verdadeiro espectáculo da Natureza!
Como reparaste nesta última foto, as glowworms não são "minhocas" nem "vermes" como o nome sugere e, como também reparaste, as duas últimas fotos não são "fotos verdadeiras", são fotos de panfletos. Infelizmente não se pode fotografar dentro da gruta mas, mesmo que fosse permitido, não resultaria - está demasiado escuro para fotos sem flash enquanto a barca desliza pelo lago subterrâneo e, se o flash disparar elas "apagam a luz". Assim sendo tudo o que te posso dizer é que é como olhar um céu estrelado de azul num lugar em que não há mais nehuma luz além da emitida pelas estrelas...e quando os olhos se habituam à "pouca" luz vês que a gruta é muito mais alta do que poderias imaginar e que a luz que estes organismos emitem não é tão pouca assim pois já consegues distinguir os contornos das caras das outras 11 pessoas que estão na barca...e não te cansas de olhar para cima, para o lado, para cima, para os milhares de pequenos pontos azuis que enchem o "céu" da gruta...mas a viagem termina ao fim de...nem sabes quanto tempo, talvez tenha sido muito mas estarias ali muito mais, a olhar o céu bioluminescente!

As glowworms são, na realidade, as larvas de um insecto (Arachocampa luminosa, pois claro!) que produzem luz para atraír as presas (outros insectos) - quanto mais esfomeadas mais brilhante a sua luz. Mas não se ficam por aqui: produzem também longos "colares" de baba (semelhante aos utilizados pelas aranhas para construír as teias mas "com contas") que ficam suspensos, como "linhas-de-pesca" - uma pequena larva pode ter até 70 "colares" destes suspensos e, quando detecta movimento na extremidade de um deles, "enrola a linha no carreto" e zás - está o almoço pronto! Esta "fase luminosa" dura 9 meses e, depois de uns dias na fase pupa, o adulto está prontinho mas dura pouco; apenas o suficiente para se reproduzir e garantir "que a luz não se apaga" na gruta com toda uma nova geração de larvas.

A chuva e as nuvens cinzentas dissiparam-se completamente e a viagem de 2h de regresso foi bem mais agradável, com um ou outro sobressalto devido aos animais que atravessam a estrada (ouricinhos, ovelhinhas, passarinhos), mas com o sol a fazer-me companhia enquanto descia, calmamente, no horizonte. E cheguei à praia de Oreti, aqui em Invercargill, mesmo a tempo de um outro espectáculo da Natureza...
Assim termina outro dia, no outro lado do mundo...
Beijinho,
J

1 comentário:

I disse...

Vejo as últimas fotos em sequência fazendo truques com o rato :), fica lindo... Muitos, muitos Beijinhos!!!!!!